quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Tudo tem o seu tempo...


A persistência da memória de Salvador Dali
Para não dizer que não falei de um dos livros mais citados e lidos, em todos os tempos da humanidade, é claro estamos falando da bíblia. Este livro constitui-se em uma série de livros, escrito por muitas mãos, sendo uma fonte riquíssima da cultura e religiosidade do mundo ocidental. 

Selecionei um dos trechos que mais aprecio:

Eclesiastes 3

1Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu;

2Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou;

3Tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derrubar, e tempo de edificar;

4Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar;

5Tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar,
e tempo de afastar-se de abraçar;

6Tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de lançar fora;

7Tempo de rasgar, e tempo de coser; tempo de estar calado, e tempo de falar;

8Tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz.

9Que proveito tem o trabalhador naquilo em que trabalha?

10Tenho visto o trabalho que Deus deu aos filhos dos homens, para com ele os exercitar.

11Tudo fez formoso em seu tempo; também pôs o mundo no coração do homem, sem que este possa descobrir a obra que Deus fez desde o princípio até ao fim.

12Já tenho entendido que não há coisa melhor para eles do que alegrar-se e fazer bem na sua vida.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Contos de animais - do mundo todo ( parte III )


A próxima história do livro "Contos de animais- do mundo todo" é ótima para ser contada, lida em voz alta ou para se ler sozinho, pois com um texto vivo e fascinante a aventura da onça encanta toda a família.






Magia na Floresta Amazônica
Brasil

 Recontados por Naomi Adler
Ilustração por Amanda Hall




Houve um tempo em que não havia escuridão, nem noite, nem sono.
Só havia luz, dia e despertar. Mas as velhas árvores que viviam na Floresta Amazônica sabiam muita coisa. 
Foi sua sabedoria que tirou a noite do rio e a trouxe para o mundo.

As velhas árvores lançaram sua magia  por toda a extensão da floresta, e assim nasceram todos os seres animados.  
Os gravetos e as raízes se transformaram em mamíferos. As folhas das árvores se transformam em pássaros. 
As pedras e seixos dos rios transformaram-se em pássaros. As pedras e seixos dos rios transformaram-se em peixes e caracóis. 
Foram criados o tucano, o beija-flor e o papagaio. Foram criados o tatu, o tamanduá, a anta e a onça. Foram criados o tatu, o tamanduá, a anta e a onça.
Foram criadas a serpente,  a piranha e a tartaruga. Tudo isso aconteceu exatamente no momento em que as velhas árvores trouxeram a noite para a terra.
No meio da escuridão, a Serpente vinha rastejando pela margem do rio, contemplando seus olhos bonitos refletidos na água. E ela cantava:

Brilho do meu olhar,
Na magia da noite
Quero ver você dançar.

E seus olhos pularam fora de sua cabeça e foram dançar na superfície da água.
Naquele momento, a Onça estava andando pela margem do rio, contemplando seu corpo bonito refletido na água. De repente ela viu os olhos da Serpente dançando na superfície da água.


Ela se abaixou no meio do mato, em silêncio, muito quieta, e ficou observando.
Dali a pouco, a Serpente cantou:

Brilho do meu olhar,
Na magia da noite
Quero ver você voltar.

E seus olhos, sempre dançando, voltaram à cabeça dela.
A Onça ficou impressionada com o que acabava de ver.
Foi até Serpente e perguntou:
- Como é que você consegue fazer uma coisa tão maravilhosa?
A Serpente, feliz por ter a oportunidade de se exibir, repetiu sua canção. Novamente seus olhos pularam fora de sua cabeça e, como vaga-lumes, dançaram pelo rio sob o luar. 
Dali a pouco, a Serpente cantou de novo e seus olhos voltaram dançando.
A onça ficou mais impressionada ainda.
- Eu queria que meus olhos também dançassem – ela disse,- Por favor, me ensine esse truque.
A Serpente concordou, mas advertiu:
- Isso não é truque, é magia. E toda magia pode ser perigosa!
Mas a Onça não se importou, ela queria que seus olhos dançassem na água. Então a Serpente começou a cantar:

Brilho do seu olhar,
Na magia da noite
A onça quer ver você dançar.

Na mesma hora, os olhos da Onça pularam fora e foram dançar no meio do rio. Depois de um tempo, a Serpente cantou:

Brilho do seu olhar;
Na magia da noite
A onça quer ver você voltar.

A Onça estava tão intrigada, que ela quis ver aquilo de novo.
- Maravilhoso! Faça outra vez.
- Não, é perigoso- replicou a Serpente.
- Por favor, por favor, só mais uma vez – suplicou a Onça.
A Serpente cedeu. 
Mas, dessa vez, quando os olhos da Onça estavam dançando na água, ela cantou:

Brilho do seu olhar,
Na magia da noite
EU  quero ver você voltar.



E os olhos da Onça foram dançando até a Serpente, que pôs a língua para fora e os engoliu. Então ela virou as costas e entrou na escuridão da floresta. A pobre Onça não enxergava nada. 
Amedrontada e sozinha, ela saiu perambulando pela floresta, sem saber para onde ia, sem saber o que fazer. 
Sem olhos, ela não podia caçar e estava condenada a morrer de fome. 
Desesperada, deitou debaixo de uma velha árvore. Pôs as patas sobre as órbitas vazias de seus olhos e começou a chorar baixinho.



A árvore ficou com muita pena da Onça e resolveu ajuda-lá. Usando seus poderes mágicos, chamou seu amigo, o Gavião-de-penacho. 
O Gavião-de-penacho chegou e ficou sobrevoando a Onça.
- Por que está tão triste? – ele perguntou.
A Onça contou a estranha história. 
O pássaro disse:
- É, estamos mesmo numa época muito estranha. Na escuridão da noite, muitas coisas misteriosas podem acontecer. 
Espere aqui, vou ver o que posso fazer para ajudá-la.
Com essas palavras, o Gavião-de-penacho levantou voo e foi olhando, ouvindo, até que seus olhos argutos viram a Serpente rastejando para um lago. Voou até ela e disse:
- Ouvi dizer que você é capaz de fazer seus olhos dançarem na superfície da água.
- É verdade – respondeu a Serpente.
O Gavião-de-penacho disse:
- Pois eu não acredito. Isso é impossível.
- Com magia, tudo é possível – replicou a Serpente.
- Não acredito em magia. Se é verdade, por que não me mostra seus olhos dançando sobre a água? – perguntou o Gavião-de- penacho sobrevoou a água, de repente, fez um voo rasante e pegou os dois olhos com o bico. Depois voltou para a escuridão da floresta e voou até a velha árvore, onde a Onça continuava esperando.
Pairando sobre a Onça, o Gavião- de- penacho deixou os dois olhos caírem bem dentro das órbitas dela.
A Onça voltou a enxergar, e muito melhor do que antes. Ela olhou seu reflexo na água e ficou admirada com a beleza e o brilho de seus novos olhos.
- Obrigada, amigo. Como posso recompensá-lo? – ela disse.
- Estou com muita fome. Por que não caça uma anta e traz para mim? É minha carne favorita – replicou o Gavião-de-penacho.
A Onça caçou uma anta e os dois novos amigos comeram juntos um jantar maravilhoso.
A partir daquela noite, a Onça sempre deixa uma parte de sua presa para o Gavião-de-penacho, em agradecimento por seus novos olhos cintilantes. Quanto aos olhos da Serpente eles voltaram a crescer, fixos, brilhantes, resplandecentes, mas nunca mais dançaram na noite mágica.





Naomi Adler conta que descobriu esta história em 1986, em Londres, com uma índia brasileira chamada Inti Ramos.