segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Entrevista com o escritor que visitará a Escola no dia 04 de outubro



Programa de Leitura Adote um Escritor 2008- Celso Gutfreind

Celso Gutfreind- (C)

Entrevistadora- (E)

Entrevistadora (E)- A psicanálise influencia na elaboração dos seus textos e livros?
Celso Gutfreind- Sim, pois proporciona uma vivência muito legal com as pessoas em seu estado mais verdadeiro, que é o de sofrimento, esperança. Delas e meu. Isso cria uma energia que, na certa, ajuda nos livros.


E- Como são preenchidas as suas horas de lazer?
C- Gosto de ouvir música, gosto de caminhar, ir ao cinema, ler, conversar com os amigos.


E- Qual o livro que você mais releu?
C- Zorba o grego, de Nikos Kanzantzakis.


E-
Que livro você está lendo agora?
C- Relendo os poemas do Mario Quintana.


E- Qual a importância de contar história para as crianças?
C- É tamanha que é difícil de resumir: proporciona um contato legal com o adulto que conta, incentiva a imaginação, possibilita expressar sentimentos, entre infinitos outros.


E- Nos diga em poucas palavras:

Um sonho: viver bastante
O Brasil é um país: muito legal por um lado e, por outro, injusto
Criança: necessita de acolhida, amor
Os adolescentes precisam de: acolhida, amor
Como pai sou: não sou, tento ser legal, muitas vezes consigo
Música: todas as de Chico Buarque
Eu não gosto de: arrogância
Eu ainda pretendo: escrever melhor

sábado, 27 de setembro de 2008

Pintura, livro e desenho

Uma Pintura: Ensor "Esqueletos que disputam um enforcado". (encontramos na sala 7 da escola, a reprodução desta pintura na "Exposição Folhas da Primavera")


Um livro: "Contos de enganar a morte" de Ricardo Azevedo.(encontramos o livro na biblioteca)

Um desenho: A releitura da obra do Ensor feita por um dos nossos alunos.
Quem será o autor do desenho?



sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Contos de enganar a morte

O escritor Ricardo Azevedo faz o fechamento do seu livro"Contos de enganar a morte", com o seguinte comentário:

" Segundo o ditado popular, não é preciso se preocupar com a morte. Ela é garantida e ninguém vai ser bobo de querer roubá-la da gente. O importante é cuidar da vida, que é boa, bela, rica, preciosa e inesperada, mas muito frágil. Ela sim, pode ser roubada."

Decidi contar o conto "A quase morte de Zé Malandro" para as turmas que trabalho com leitura e contação de histórias, exatamente por ser preciso tocar neste assunto "a morte" com as crianças e os adolescentes.

Morrer faz parte da vida de todos os seres vivos, ainda mais da vida dos nossos alunos/as, que são craques nesta matéria. Quem é professor nesta Escola sabe disso.

Ricardo, nos deu de presente algumas narrativas populares que falam deste tema, as personagens centrais procuram de alguma forma enganar e fugir da morte. O escritor conseguiu construir um texto alegre, divertido, humorado e que nos prende a atenção do início ao fim.

Sabemos que ler e contar histórias, contribui imensamente para a ampliação do mundo da linguagem.
A criança para expressar a sua dor e os seus conflitos, precisam ir construindo um arsenal mínimo de palavras e símbolos, para poder classificar, processar e nomear as suas experiências e sentimentos de forma saudável.
Medos, violência e morte precisam ser processados internamente e a transferência destas questões para um mundo imaginativo, em que as personagens dominam, enfrentam e superam seus conflitos e medos iniciais, revelam a criança e ao adolescente, que é possível sim, após uma longa jornada, predominar o sentimento do bem-estar e não o da dor, que é possível sim, vencer batalhas que parecem perdidas.

A ilustração é outro ponto alto do livro.

Dê só uma olhada na capa. ( dentro do livro é preciso olhar com cuidado as diferentes caveiras que aparecem, o detalhe das cores, o papel, a técnica utilizada...)



Você tem medo da morte? Leia o livro, você vai dar muitas risadas dessa companheira inseparável da vida, a morte.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Você sabe o quê estão falando dos professores?

Lembrei, que conversei bastante com o profº Renan, sobre a matéria que saiu na revista Veja, no dia 21 de maio, assinado por Gustavo Ioschpe, a “Saúde dos médicos e professores”.
No texto, Ioschpe, fala da saúde dos professores, e afirma que a incidência de depressão, da síndrome de burnout, estresse, problemas de voz, coluna, etc... tomou uma dimensão despropositada, e é, mais uma, da lista das razões esfarrapadas que os professores estão utilizando para justicar a falta de uma educação de qualidade no nosso país.

Ele ainda, procura comparar a nossa profissão com a dos médicos, através de uma pesquisa que o Conselho Federal de medicina divulgou sobre essa profissão, os médicos sofrem de 44% de depressão e ansiedade e 57% têm estafa e desânimo, taxa muito superior a dos professores e da população em geral, e segundo ele, a saúde brasileira vai bem melhor do que a nossa educação.


- Sabe o que mais me irritou não foi o fato de quem escreveu não conhecer a realidade das escolas e da saúde pública;
- nem o fato dele comparar duas profissões de forma tão superficial e grosseira;
- nem fiquei assombrada com o colunista, por não se perguntar que tipo de sociedade a gente vive, e o porquê, que tantos que cuidam da saúde dos outros e conduzem (pedagogos) às crianças e adolescentes à aprendizagem e a cidadania, estão ficando doentes;
- mas fiquei de boca aberta com a campanha difamatória contra os professores que trabalham nas escolas públicas e a forte desvalorização do esforço e do trabalho coletivo desses profissionais.


Não vou me deter falando da falta de incentivo, verbas, valorização ou qualificação dos professores em nosso país. E nem que esta profissão têm bons e maus profissionais, como em qualquer outra...
O que me mais deixou preocupada foi o fato da revista reproduzir uma visão equivocada a respeito dos educadores e não ter o mínimo de responsabilidade ética para rever o artigo publicado pelo colunista.
A revista Veja, voltou com essa prática (de culpar os professores), na edição nº 33, de 20 de agosto, em matéria intitulada " Você sabe o que estão ensinando a ele?".


A revista volta a apontar que "a péssima qualidade de ensino" é de responsabilidade (culpa) dos professores que não ensinam os conteúdos das disciplinas, mas dedicam-se a fazer discursos ideológicos nas salas de aula.


Sem comentários... vou apenas recomendar:


- A leitura da nota de repúdio da CNTE (confederação Nacional dos trabalhadores em educação) e do Contee(Confederação Nacional dos trabalhadores de ensino), que intula-se "Você sabe o que estão querendo dizer?".
- O texto de Carlos Rodrigues Brandão.

Sites: http://www.cnte.org.br/
http://www.contee.org.br/ (nota repúdio veja).


Pela democratização dos espaços de comunicação e pela ética na prática jornalística.

E pela valorização da nossa profissão de professores. (aproveitem para descobrir na página CNTE quem do nosso Estado falou que o piso nacional dos professores não irá funcionar.)

(pensei em não escrever sobre isto, mas não resisti, não suporto mais o discurso fácil e simplista de culpar os professores pela mazelas na educação)

domingo, 21 de setembro de 2008

Exposição Folhas da Primavera

Guria, óleo s/ tela,1986*


Do dia 15 de setembro, até o início do próximo mês, estaremos realizando a "Exposição Folhas da Primavera", na sala 7, do prédio II, na Escola.
Neste ano, é a segunda Exposição que realizamos, sendo uma parceria entre a Biblioteca Mario Quintana, professoras de arte (Escola) e a Biblioteca da SMED.

Desta vez, estaremos expondo 16 reproduções de obras de pintores geniais. O artista central escolhido foi o gaúcho Iberê Camargo, e as outras obras/pintores selecionados para exposição se relacionam com o primeiro.
A partir de uma formação para professores, promovida pela Fundação Iberê Camargo, algumas turmas da Escola irão visitar este novo prédio/espaço de arte na cidade e ter o contato direto com quadros deste artista.
Nos preocupamos em realizar um trabalho qualitativo e significativo, e então resolvemos, proporcionar aos alunos um contato prévio com algumas reproduções de arte, bem como trabalhar com o reconhecimento e a importância do Iberê para a pintura contemporânea.
Por isto, estamos com a 2ª exposição na Escola, que possuem o objetivo de: construir com os alunos a aprendizagem de olhar, ler, conhecer e fazer releituras de obras de arte.
Obras expostas:
1.O Dia Seguinte - Munch
2. Noite de Inverno - Munch
3. Retrato - Van Gogh
4. Pai Tanguy - Van Gogh
5. Dr. Gachet - Van Gogh
6. Duas Amigas - Segall
7. Esqueletos que disputam um enforcado - Ensor
8. A Banda musical na Rue de Flanders - Ensor
9. Ciclistas - Iberê
10. Riacho- Iberê
11. Auto-retrato - Iberê
12.Guria - Iberê
13. Bosques e Rochedo - Cézzane
14. Carnaval de Arlequim - Miró

15. A Estrada Principal e as Secundárias - Paul Klee
16. Flora sobre a Rocha - Paul Klee








Em agosto, para qualificar ainda mais o trabalho, adquirimos para a biblioteca o lindo livro acima"Iberê menino" de André Neves e Christina Dias.





* A Biblioteca Mario Quintana da Escola Morro da Cruz, tem um cantinho chamado Iberê Camargo, com a reprodução da obra "Guria".

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

CYRO MARTINS

No dia 05 de agosto deste ano, celebrou-se os 100 anos de nascimento do escritor e médico (um dos precursores da psicanálise no RS), Cyro Martins ( Quaraí-1908 - 1995).

Cyro Martins, contribuiu imensamente com a cultura literária gaúcha quando optou em contar a história dos pequenos arrendatários, agregados, posteiros, peões, carreteiros, etc..
Na famosa Trilogia do Gaúcho a pé ele narra o processo de expulsão dos trabalhadores do campo, face à inexorável modernização capitalista das estâncias.


Em uma entrevista para o Jornal Universitário de Porto Alegre, 1988, intitulado, " CYRO MARTINS, 80 ANOS: AINDA ESTOU EM OBRAS", ele fala sobre a função do escritor na sociedade de hoje:

"Não creio que a gente, escrevendo diretamente sobre o que está se passando, vá influir muito. Acho que é através da ficção bem realizada, que se poderá influir mais sobre o pensamento das pessoas. Quando escrevi Sem Rumo, pensava que se escrevesse um ensaio poderiam gostar, mas em pouco tempo desapareceria. No entanto, escrevi-o em 1935, e ainda está circulando. É através da ficção que os escritores podem influir, como sempre influíram, na formação da mentalidade dos povos. Não se nota essa influência, as ramificações , mas acho que são idéias que vão, através do sentimento, se infiltrando na alma e estruturando seu caráter. Por outro lado, acho que é muito arriscado e é difícil que se possa fazer uma boa obra de ficção apanhando fatos da atualidade, por exemplo. Pode-se tirar fatos dos jornais e um dia ter material para fazer um romance. E, se o indivíduo é realmente escritor, se é habilidoso, ele é capaz de fazer até uma obra bem feita. Mas faltará a essa obra o sangue da elaboração que não foi fisgado na alma. A gente se atualiza e escreve coisas que têm influência atual, mas com um certo retardo, com vivências da infância, da adolescência e da vida adulta. É preciso passar por um tempo de elaboração para poder sair um sangue-nervo. Ao mesmo tempo em que estamos elaborando cenas, vivências, figuras, isso em anos e anos, a gente está vivendo o dia de hoje, então consegue adaptar essa intenção de elaboração, de saída, aos dias que correm. Penso que isso é o que traduz ou o que leva as grandes obras e consegue fechar num livro as etapas da vida histórica de seu povo.

Mas o ideal mesmo é a gente poder não se sentir jamais em fim de festa e experimentar o gosto de viver no devir do dia-a-dia, infinito recomeçar da criação."

Cyro Martins


( Entrevista concedida a Elisa Henkin e Simone Bobsin, para o jornal
Universitário. Porto Alegre, agosto de 1988)

Trecho retirado do site abaixo e o recomendamos para um maior conhecimento da obra de Cyro Martins:

http://celpcyro.org.br


O site acima é do CENTRO DE ESTUDOS DE LITERATURA E PSICANÁLISE CYRO MARTINS que é uma instituição sem fins lucrativos fundada em 1997.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Caminhos...

Gente! Pra quem ainda não escutou nossa canção, aqui vai a letra:

CAMINHOS
Autoria: criação coletiva - alunos do grupo de Música das turmas B24, B25, B33, B34, B36, C14, C21 e ProfªSusi

Descobrir caminhos que nos levem ao melhor em nós
Revelar o brilho que existe em cada um, em cada olhar
Todos numa só voz

A gente quer o mundo
Como o mundo deve ser
Que seja bom, seja legal

Que não seja desigual

Um bom lugar pra se viver
Para mim e pra você
Chega de sofrer!
Chega de sofrer!

E qual é a solução?
Olha bem, meu cidadão:
Olha dentro, olha fora
Olha você e seu irmão!

Tudo o que você precisa
Todo mundo quer também
Tudo o que se quer da vida é o bem!
É o bem!

Segurança, educação
Mais saúde e respeito
Somos caras–cidadãos
Isso é nosso direito!

Levantamos a bandeira
Com as cores da paz
Repassando esta mensagem:
O bem se faz!

E fazemos na ação
Com a força de união
Preciso da tua mão
E também teu coração

Paciência
Com amor
Consciência
Valor! Valor!

O valor de refazer
Reciclar, entender
Transformar, renascer
Vamos crescer!

O valor de amar
De querer o bem
O valor de cuidar
Do que se tem

O valor de fazer,
De melhorar
Mudar o nosso mundo,
Transformar!

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Caminhos

Ainda não é o dia dos professores/as, mas sabendo que foi os nossos alunos que comporam e cantaram a música "Caminhos" eu não preciso mais de homenagens.

Parabéns à Susi pelo lindo trabalho!!!
Parabéns aos Alunos, a música está um Show!!!
E não precisam se preocupar com o Festival, vocês já são uns vencedores!!!

Abaixo, a música vale a pena você ouvir....
Beijos no coração dos nossos lindos cantores.
Sandra Sabino

Nossos músicos

Nesta terça-feira, 09/09, alguns alunos das B20, B30 e C10 estiveram gravando uma música composta por eles para um festival que acontecerá em outubro. A experiência foi muito legal, pois aconteceu num estúdio profissional... Show! Se conseguirmos passar para a próxima fase, precisaremos da presença da torcida organizada!!!! Aguardem notícias e as fotos...
Abraços sonoros e harmônicos!

Texto da campanha de 100 anos da ABI (Associação Brasileira de Imprensa)

Sobre a Vírgula

Vírgula pode ser uma pausa... ou não.
Não, espere.
Não espere.

Ela pode sumir com seu dinheiro.
23,4.
2,34.

Pode ser autoritária.
Aceito, obrigado.
Aceito obrigado.

Pode criar heróis.
Isso só, ele resolve.
Isso só ele resolve.

E vilões.
Esse, juiz, é corrupto.
Esse juiz é corrupto.

Ela pode ser a solução.
Vamos perder, nada foi resolvido.
Vamos perder nada, foi resolvido.

A vírgula muda uma opinião.
Não queremos saber.
Não, queremos saber.

Uma vírgula muda tudo.

ABI: 100 anos lutando para que ninguém mude uma vírgula da sua informação.

domingo, 7 de setembro de 2008

Ler devia ser proibido

A pensar fundo na questão, eu diria que ler devia ser proibido.
Afinal de contas, ler faz muito mal às pessoas: acorda os homens para realidades impossíveis, tornando-os incapazes de suportar o mundo insosso e ordinário em que vivem.
A leitura induz á loucura, desloca o homem do humilde lugar que lhe fora destinado no corpo social. Não me deixam mentir os exemplos de Don Quixote e Madame Bovary. O primeiro, coitado, de tanto ler aventuras de cavalheiros que jamais existiram meteu-se pelo mundo a fora, a crer-se capaz de reformar o mundo, quilha de ossos que mal sustinha a si e ao pobre Rocinante. Quanto à pobre Emma Bovary, tornou-se esposa inútil para fofocas e bordados, perdendo-se em delírios sobre bailes e amores costesãos.
Ler realmente não faz bem. A criança que lê pode se tornar um adulto perigoso inconformado com os problemas do mundo, induzido a crer que tudo pode ser de outra forma. Afinal de contas, a leitura desenvolve um poder incontrolável. Liberta o homem excessivamente. Sem a leitura, ele morreria feliz, ignorante dos grilhões que o encerram. Sem a leitura, ainda, estaria mais afeito à realidade cotidiana, se dedicaria ao trabalho com afinco, sem procurar enriquece-lá com cabriolas da imaginação.
Sem ler, o homem jamais saberia a extensão do prazer. Não experimentaria nunca o sumo bem de Aristóteles: o conhecer. Mas para que conhecer-se, na maior parte dos casos, o que necessita é apenas executar ordens? Se o que deve, enfim, é fazer o que dele esperam e nada mais?
Ler pode provocar o inesperado, pode fazer com que o homem crie atalhos para caminhos que devem, necessariamente, ser longos. Ler pode gerar a invenção. Pode estimular a imaginação de forma a levar o ser humano além do que lhe é devido.
Além disso, os livros estimulam o sonho, a imaginação, a fantasia. Nos transportam a paraísos misteriosos, nos fazem enxergar unicórnios azuis e palácios de cristal. Nos fazem acreditar que a vida é mais do que um punhado de pó em movimento. Que já algo a descobrir. Há horizontes para além das montanhas, há estrelas por trás das nuvens. Estrelas jamais percebidas. É preciso desconfiar desse pendor para o absurdo que nos impede de aceitar nossas realidades cruas.
Não, não dêem mais livros às escolas. Pais, não leiam para os seus filhos, pode levá-los a desenvolver esse gosto pela aventura e pela descoberta que fez do homem um animal diferente. Antes estivesse ainda a passear de quatro patas, sem noção de progresso e civilização, mas tão pouco sem conhecer guerras destruição, violência. Professores, não contem histórias, pode estimular uma curiosidade indesejável em seres que a vida destinou para a repetição e para o trabalho duro.
Ler pode ser um problema, pode gerar seres humanos conscientes demais dos seus direitos políticos em um mundo administrado, onde ser livre não passa de uma ficção sem nenhuma verossimilhança. Seria impossível controlar e organizar a sociedade se todos os seres humanos soubessem o que desejam. Se todos se pusessem a articular bem suas demandas, e ficar sua posição no mundo, a fazer dos discursos os instrumentos de conquista de sua liberdade.
O mundo já vai por um bom caminho. Cada vez mais as pessoas lêem por razões utilitárias: para compreender formulários, contratos, bulas de remédio, projetos, manuais etc. Observem as filas, um dos pequenos cancros da civilização contemporânea. Bastaria um livro para que todos vissem magicamente transportados para outras dimensões, menos incômodas. E esse o tapete mágico, o pó de pirlimpimpim, a máquina do tempo. Para o homem que lê, não há fronteiras, não há cores, prisões tampouco. O que é mais subversivo do que a leitura?
É preciso compreender que ler é para enriquecer culturalmente ou para se divertir deve ser um privilégio concedido apenas a alguns, jamais àqueles que desenvolvem trabalhos práticos ou manuais. Seja em filas, em metrôs, ou no silêncio da alcova... Ler deve ser uma coisa rara, não para qualquer um.
Afinal de contas, a leitura é um poder, e o poder é para poucos.
Para obedecer não é preciso enxergar, o silêncio é a linguagem da submissão. Para executar ordens, a palavra é inútil.
Além disso, a leitura promove a comunicação de dores, alegrias, tantos outros sentimentos... A leitura é obscena. Expõe o íntimo, torna coletivo o individual e o público, o secreto, o próprio. A leitura ameaça os indivíduos, porque os faz identificar sua história a outras histórias. Torna-os capazes de compreender e aceitar o mundo do outro. Sim, a leitura devia ser proibida.
Ler pode tornar o homem perigosamente humano.


In: PRADO, J. & CONDINI, P. (Orgs). A formação do leitor: pontos de vista. Rio de Janeiro: Argus, 1999. pp. 71-3.

A biblioteca está cheia de livros novos. Vamos viver perigosamente?

Cristina Zubaran











Sugestão de site: Revista de Poesia Infantil e apresentação do livro " O caminho do pintor"

Recebemos como dica da editora Projeto a indicação do site de Poesia Infantil: Tigre Albino.


Encontraremos no Tigre Albino,, na edição de 15 de julho de 2008, uma apresentação realizada por Carlos Urbim (que já visitou a nossa Escola no projeto Adote) do livro "O Caminho do Pintor", de Celso Gutfreind(o escritor que nos visitará no dia 04 de outubro).

Abaixo, o texto de apresentação, retirado da página do site Tigre Albino:



Um pintor pra lá de original

O Caminho do Pintor.

Celso Gutfreind já desmascarou os monstros, tipo Lobo Babão, e os medos que afetam as crianças de todas as idades. Agora, o mestre em psiquiatria infantil – autor de O Pum e A Almofada que Não Dava Tchau, dois de seus livros mais divertidos – está brincando com as cores. O Caminho do Pintor, sua obra mais recente, é um delicioso passeio pelas sugestões que os tons ou nuances de cada cor proporcionam. E desta vez a diversão fica maior ainda porque a poesia do porto-alegrense Celso vem acompanhada de belas ilustrações do recifense Manoel Veiga.
Nem os daltônicos se atrapalham na trajetória criada pelo lirismo da história de um pintor de paredes sensível e, principalmente, bem humorado. Ele, claro, gosta de pintar, mas detesta roxo. Quando encomendam paredes dessa cor, pinta roxo de raiva. Adora, no entanto, quando pedem verdes, sua especialidade:
Uma vez pintei uma parede com dois tons: verde-claro verde-escuro. Outra vez pintei outra de três tons: claro, escuro e mais ou menos.
De tanto trabalhar para outros, sob encomenda, um dia o pintor do Celso encheu o saco. Começou a se pedir cores que lhe davam na veneta. Aí se tornou pintor de quadros, pois telas “são paredes pequenas onde a gente é que manda”. Foram nascendo telas cada uma mais interessante do que a outra: “Menino Olhando Pipoca”, “Pipoca Olhando Menino”, “Esquilo Com Coceira no Rabo”. As crianças apreciaram demais, os pais delas não. Até proibiram os filhos de olhar para os quadros do pintor de paredes. Então, o artista voltou a atender pedidos alheios, só que sem a alegria de inventar quadros:
De noite, na hora de dormir, ficava triste Dormia, sonhava com todas as cores do mundo. Os sonhos eram quadros maiores, sem paredes. Bichos corriam nos campos, sem cercas. De dia, era um pesadelo: os bichos ficavam presos e eu voltava a pintar paredes.
Enquanto a história se desenrola, as ilustrações de Manoel ajudam o leitor a ver melhor as sutilezas da poesia de Celso Gutfreind. Eles se conheceram em Paris, quando estavam aprofundando estudos e descobrindo novas maneiras de encarar a vida. Engenheiro eletrônico que virou aluno da Escola de Arte do Louvre, Manoel mescla desenhos com fotos digitais para compor os quadros que homenageiam o texto de Celso. O caminho do pintor continua. Se ele sonha coisas bonitas de noite, passou a sonhá-las como se fossem telas. Só que com movimento e sons. De dentro dos sonhos voltaram a ganhar vida o guri que olha pipoca, a própria pipoca a saltar e o esquilo coçador de rabo. Não deu outra: o ex-pintor de paredes, pintor de quadros solicitados por ele mesmo, se torna pintor de filmes. Tanta sonhação só poderia se transformar em roteiros cinematográficos, tão bonitos quanto os quadros cheios de cores, com muitos e muitos verdes, a especialidade maior. A gente chega ao fim da viagem de Celso e Manoel com uma imensa vontade de que algum cineasta logo descubra O Caminho do Pintor para dirigir uma dessas animações que ganham prêmios em festivais e arrebatam o público no escurinho dos cinemas.
Agora sou pintor de filmes. As crianças pedem para ver. Os pais levam e vêem juntos. Fiz um filme chamado “Menina dançando no sol, na tempestade e no sol”.

Carlos Urbim