quarta-feira, 17 de setembro de 2008

CYRO MARTINS

No dia 05 de agosto deste ano, celebrou-se os 100 anos de nascimento do escritor e médico (um dos precursores da psicanálise no RS), Cyro Martins ( Quaraí-1908 - 1995).

Cyro Martins, contribuiu imensamente com a cultura literária gaúcha quando optou em contar a história dos pequenos arrendatários, agregados, posteiros, peões, carreteiros, etc..
Na famosa Trilogia do Gaúcho a pé ele narra o processo de expulsão dos trabalhadores do campo, face à inexorável modernização capitalista das estâncias.


Em uma entrevista para o Jornal Universitário de Porto Alegre, 1988, intitulado, " CYRO MARTINS, 80 ANOS: AINDA ESTOU EM OBRAS", ele fala sobre a função do escritor na sociedade de hoje:

"Não creio que a gente, escrevendo diretamente sobre o que está se passando, vá influir muito. Acho que é através da ficção bem realizada, que se poderá influir mais sobre o pensamento das pessoas. Quando escrevi Sem Rumo, pensava que se escrevesse um ensaio poderiam gostar, mas em pouco tempo desapareceria. No entanto, escrevi-o em 1935, e ainda está circulando. É através da ficção que os escritores podem influir, como sempre influíram, na formação da mentalidade dos povos. Não se nota essa influência, as ramificações , mas acho que são idéias que vão, através do sentimento, se infiltrando na alma e estruturando seu caráter. Por outro lado, acho que é muito arriscado e é difícil que se possa fazer uma boa obra de ficção apanhando fatos da atualidade, por exemplo. Pode-se tirar fatos dos jornais e um dia ter material para fazer um romance. E, se o indivíduo é realmente escritor, se é habilidoso, ele é capaz de fazer até uma obra bem feita. Mas faltará a essa obra o sangue da elaboração que não foi fisgado na alma. A gente se atualiza e escreve coisas que têm influência atual, mas com um certo retardo, com vivências da infância, da adolescência e da vida adulta. É preciso passar por um tempo de elaboração para poder sair um sangue-nervo. Ao mesmo tempo em que estamos elaborando cenas, vivências, figuras, isso em anos e anos, a gente está vivendo o dia de hoje, então consegue adaptar essa intenção de elaboração, de saída, aos dias que correm. Penso que isso é o que traduz ou o que leva as grandes obras e consegue fechar num livro as etapas da vida histórica de seu povo.

Mas o ideal mesmo é a gente poder não se sentir jamais em fim de festa e experimentar o gosto de viver no devir do dia-a-dia, infinito recomeçar da criação."

Cyro Martins


( Entrevista concedida a Elisa Henkin e Simone Bobsin, para o jornal
Universitário. Porto Alegre, agosto de 1988)

Trecho retirado do site abaixo e o recomendamos para um maior conhecimento da obra de Cyro Martins:

http://celpcyro.org.br


O site acima é do CENTRO DE ESTUDOS DE LITERATURA E PSICANÁLISE CYRO MARTINS que é uma instituição sem fins lucrativos fundada em 1997.

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