terça-feira, 29 de julho de 2008

30 de julho aniversário do poeta

O nome da nossa biblioteca é uma homenagem ao Mario Quintana.
Mário de Miranda Quintana foi um poeta, tradutor e jornalista brasileiro. Nasceu em Alegrete na noite de 30 de julho de 1906 e faleceu em Porto Alegre, em 5 de maio de 1994.
"O tempo não pára! Só a saudade é que faz as coisas pararem no tempo..."
"Quando eu for, um dia desses,
Poeira ou folha levada
No vento da madrugada,
Serei um pouco do nada
Invisível, delicioso (...)"
Mario Quintana


Celso Gutfreind e Mario Quintana

Quem nos acompanhará no programa de Leitura Adote um Escritor, este ano na Escola, é o autor Celso Gutfreind.
Selecionamos um texto do Celso, onde ele nos conta o seu prazer em ler Mario Quintana e como aconteceu os seus dois encontros com o poeta.
O texto do Celso, ainda nos lembra que, ler e escrever, tem o poder mágico de nos confortar e nos dar esperança: "...a poesia pode ser o milagre de uma palavra encantada no meio do desespero."


NA BATALHA DAS LETRAS

Celso Gutfreind
Poeta e psiquiatra gaúcho.


Publicado no Jornal Zero Hora, Porto Alegre/RS - Segundo Caderno, de 19-04-2006, em comemoração ao centenário de Mario Quintana.

Foi na adolescência que comecei a ler Mario Quintana. Já ali fiquei impressionado com seu Esconderijos do Tempo; em seguida, procurei outros lugares de sua obra e, ainda ali, um resquício de criança vibrou escondido com o doutor Queijando e com letras que eram como pessoas. Poucos anos depois, a vida me botou na frente dele. O jornalista Sérgio Saraiva chamou dois autores jovens, Ricardo Portugal e eu, para entrevistarem o poeta. Ele completava oitenta anos, enquanto mal tínhamos saído dos vinte. Ouviu atentamente as perguntas, respondeu. com piedade e humor; ao final, chamou-nos de vergonhosamente jovens. Bem feito para nós, que nos metíamos com o ritmo da experiência. Pior para ele que, dias depois, precisou consultar na emergência do Hospital Pronto Socorro, onde eu atendia como estagiário. O feitiço do aprendiz voltava-se contra o aprendiz de feiticeiro. Ele acusou o golpe ao me reconhecer: - Mas é o vergonhoso... Depois agüentou o tirão como quem aceita a pesada moeda, não da poesia como cantava, mas da vida como vivia. Era madrugada naquele canto insone da cidade. Supliquei a um colega de plantão que atendesse a um travesti esfaqueado e fui me ocupar do poeta. Seu nariz sangrava por causa de uma pressão alta. Mediquei-o, a pressão cedeu, mas o que mais lhe interessou foi o prontuário que eu preenchia para mostrar ao médico-chefe. Pediu licença para ler e encarou as palavras epistaxe hipertensiva. Ignorou o hipertensiva, mas se agarrou à epistaxe como quem encontra um tesouro. Contou algumas histórias, conversou novamente com piedade e humor. Mas não perdeu o brilho nos olhos, diante da palavra, ao longo daquela madrugada violenta do Pronto Socorro.

Em seu Caderno H e espalhado em outros livros, há muitos poemas sobre a própria poesia. São de alto nível, mas nada mais alto do que me ensinou, sem dizer nada, na noite cheia de feridos e solitários: a poesia pode ser o milagre de uma palavra encantada no meio do desespero. E eu, espécie de doutor Queijando vergonhosamente jovem, aprendi a graça de que as letras podem ser mais ritmadas do que a vida e a morte das pessoas.

"Há bens inalienáveis, há certos momentos que, ao contrário do que pensas, fazem parte de sua vida presente e não do teu passado. E abrem-se no teu sorriso mesmo quando, deslembrado deles, estiveres sorrindo a outras coisas".

Ah, nem queiras saber o quanto deves à ingrata criatura...
A thing of beauty is a joy for ever - disse há cento e muitos anos, um poeta inglês que não conseguiu morrer.




Um comentário:

Sandra Sabino disse...

(Recebi os comentários abaixo, via e-mail. Grata pela contribuição.)

Lindas palavras do nosso autor escolhido. Sempre fazem lembrar do bafejo da alegria.
Profº Lauro lima



Quarta, às 19h e 30 o Celso estará na casa de Cultura com Armindo Trevisan e Maria do Carmo Campos, e o mediador é o Caio Riter. Profª Jucemara